Por que a Globo quer a renúncia de Temer?

A Globo é sócia do capital financeiro. É agência ideológica do poder econômico e, por isso, joga em posição central na crise. Em articulação com o poder judiciário, capturado pelas corporações empresariais, o consórcio busca conduzir a substituição do usurpador Michel Temer por outro que garanta o aprofundamento do programa de espoliação do fundo público.

Entender os interesses econômico-políticos que envolve essa trama é tarefa fundamental para os movimentos progressistas que lutam por uma democracia substantiva no Brasil e na América Latina.


Gilbran Jordão traz importante contribuição para análise deste quadro, publicado originalmente em Esquerda Online.

Por que a Globo quer a renuncia de Temer?
As Organizações Globo são um importante instrumento do imperialismo no Brasil e na America Latina. A confiança dada a Temer para seguir no pós-impeachment aprofundando e acelerando as reformas da previdência e trabalhista não existe mais.
Mas por que?
Os principais partidos do país (PT, PMDB e PSDB) mantiveram no último período relações promíscuas com empresas brasileiras. Como resultado da ajuda do Estado a essas empresas, elas acabavam praticando preços abaixo do valor de custo. Isso deixava os grupos internacionais sem igualdade de condições para disputar mercados. Num cenário de crise econômica, essa situação é ainda mais intolerável para o imperialismo. Petrobras, JBS e Odebrecht são empresas que adotaram um “modus operandi” que inclui a aliança com esses partidos para benefícios mútuos. As empresas ganhavam vantagens para disputar mercados e fazer investimentos, e esses partidos recebiam financiamento para disputarem o aparato do Estado, seja em âmbito federal, estadual ou municipal.
Diante de uma grave crise econômica mundial, diante da necessidade de conseguir mais mercados e devido à importância de ter o controle sobre o capital investido no Brasil, o imperialismo decidiu avançar na padronização das ações dos procuradores e do poder judiciário em escala internacional.
Em base à matéria da Folha de São Paulo de janeiro desse ano,  com o titulo “OPERAÇÃO LAVA JATO É PRÓ MERCADO, diz Janot em Davos.”, é possível entender os fundamentos do pensamento do Procurador Geral da Republica (que é membro da Associação Internacional de Procuradores). Nesta matéria, Janot diz que a Lava Jato não é contra o capitalismo, mas sim contra o que ele chama de “capitalismo de compadrio”:
“Esse tipo de capitalismo resulta inexoravelmente em distorções na competição – regra de ouro do capitalismo – porque os “compadres” dos governantes de turno têm preferências nas obras públicas, em troca de propinas.”
Assim, as ações do Poder Judiciário e a Operação Lava Jato têm sido, até agora, instrumentos importantes para que o imperialismo consiga desbaratar as práticas de “dumping” (preços abaixo do valor de custo) e comece a abrir as condições para que os grupos estrangeiros possam controlar mercados e investimentos no Brasil. A prisão de grandes empresários e figuras de peso da politica nacional é a expressão do triunfo de uma fração da burguesia sobre a outra. Nesse sentido, é ilusão achar que a Lava Jato é um fenômeno progressivo.
Michel Temer e Aécio Neves perderam o que restava de confiança por parte do imperialismo, pois mesmo depois de tantas prisões e do impeachment, o que parece acontecer é que as práticas promíscuas continuaram acontecendo. Para o imperialismo, o gesto de Michel Temer de receber o dono da JBS no Palácio do Jaburu é um desaforo, uma quebra de confiança.
Acabar com a prática de “dumping” é tão importante para os grupos estrangeiros como a aplicação das reformas. E lendo o próprio editorial de O Globo, é possível perceber que eles estão dispostos a tirar Temer para colocar alguém de máxima confiança, através de eleições indiretas, mesmo que as reformas sejam adiadas alguns meses. Não são a favor de nenhuma mudança na Constituição, e vão lutar contra uma PEC que estabeleça eleições diretas. Nesse caso, vão defender a Constituição de 88 até o fim!
Mas nem tudo está sob controle nessa luta fracional da burguesia. A intervenção do movimento de massas, com grandes manifestações de rua, e a construção de uma nova Greve Geral, são fundamentais para mudar os rumos do país, principalmente nesse momento de crise interburguesa, que pode evoluir para uma grave crise no regime. E não podemos ter duvida: é fundamental exigir a queda de Temer, o fim das reformas e impedir que um congresso cheio de corruptos em pânico eleja alguém da confiança total do imperialismo para retomar a aprovação das reformas da previdência e trabalhista.


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