quarta-feira, 6 de outubro de 2010

EDUCAÇÃO PARA O TEMPO LIVRE, ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL E EMANCIPAÇÃO HUMANA.

Ao longo dos últimos anos trabalhamos na hipótese de que as políticas de esporte e lazer, se orientadas por uma perspectiva de Educação para o Tempo Livre, são capazes de nos fornecer pistas importantes de uma educação emancipatória, a ser desenvolvida como arma da luta dos trabalhadores e trabalhadoras neste século XXI. Sistematizamos esta proposta no livro Círculos Populares de Esporte e Lazer: Fundamentos da Educação para o Tempo Livre (Recife: Bagaço, 2004). Partimos do pressuposto de que a Educação para o Tempo Livre consiste em um processo pedagógico de apropriação da cultura, visando o exercício de liberdade no tempo liberado, com repercussão no tempo social mais amplo. Entretanto, por sabermos que sob a ordem capitalista o tempo da maioria da população é dedicado ao trabalho alienado produtor de mais-valia, compreendemos a Educação para o Tempo Livre como estratégia político-pedagógica de luta por uma nova ordem civilizatória, para além do capital (MÉSZÁROS, 2002).


Portanto, seu espaço de ação são as contradições do sistema do capital, que abrem possibilidades relativas de contraponto, devendo ser aproveitadas para educação política e organização dos trabalhadores e seus filhos, numa perspectiva de transformação radical da ordem social. Essa proposta ganhou materialidade no decorrer da gestão do Partido dos Trabalhadores na cidade do Recife, nordeste do Brasil, no período entre 2001 e 2008, resultando numa rica experiência pedagógica e política.

Um primeiro balanço crítico dessa experiência foi realizado na minha tese de doutorado intitulada Política de Esporte e Lazer como Educação Emancipatória da Juventude: Contradições e Possibilidades das Políticas Democráticas e Populares (Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2005). Concluímos que o programa de Educação para o Tempo Livre se apresenta como possibilidade de educação emancipatória na medida em que: articula espaços de diálogo entre diferentes agrupamentos juvenis em busca de soluções para os problemas que enfrentam no âmbito da cultura e nas demais dimensões da vida; contribui para apropriação de uma leitura crítica do mundo e da tomada de consciência de classe; toma como ponto de partida as formas de expressão cultural próprias dos grupos que trabalha e contribui ao desenvolvimento destas; busca articulação com outros movimentos socioculturais e lutam pela conquista e ampliação de direitos sociais e políticos.

Outra análise da experiência foi feita também na tese de doutorado de Katharine Nínive Pinto Silva docente da Universidade Federal de Pernambuco, intitulada Formação de Trabalhadores em Lazer: Por uma Educação no e para o Tempo Livre (Salvador: Universidade Federal da Bahia, 2005) A pesquisa concluiu que a formação continuada dos educadores é espaço estratégico, mas deve superar a mera compreensão de capacitação desconectada da realidade, passando a problematizar e buscar soluções para o conjunto de desafios pedagógicos e políticos a serem enfrentados pelo coletivo de educadores e educandos. Nesse sentido, a formação continuada dos trabalhadores é concebida como espaço permanente de avaliação do projeto político-pedagógico e de tomada de decisões coletivas. Do ponto de vista político, tornar-se espaço de formação cultural e organização do coletivo de trabalhadores.

Nesta conferência apresentaremos reflexões sobre os vínculos entre a Educação para o Tempo Livre e a Animação Sociocultural, a partir das análises das experiências e pesquisas supracitadas, evidenciando que o movimento concreto das políticas em destaque possibilitou uma educação emancipatória, na medida em que colocou os sujeitos de frente com problemas fundamentais para de luta de classes no atual contexto histórico. As reflexões partem da explicitação da proposta político-pedagógica de Educação para o Tempo Livre para analisar os problemas enfrentados pelos sujeitos que colocaram a proposta em andamento que, por sua vez, expressam contradições fundamentais da luta de classes na contemporaneidade. Ao final, procuramos defender a tese de que os vínculos da Educação para o Tempo Livre com a Animação Sociocultural devem ser compreendidos no interior de movimento político-cultural de luta por uma nova ordem civilizatória, para além do capital.