sábado, 5 de janeiro de 2019

EAD, ensino remoto e a espoliação da Educação

Imagem: politika.com
O governo Bolsonaro foi patrocinado pelo capital interno e externo para aprofundar a espoliação econômica e social. A educação é um dos principais alvos dos processos de privatização e financeirização, caracterizados pelo geógrafo britânico David Harvey como formas contemporâneas de Acumulação por Espoliação.
Longe de ser um processo inédito na América Latina e no mundo, a espoliação da educação é assunto investigado por diversos pesquisadores a exemplo do próprio Harvey, Michael Apple, Diane Ravitch, Luiz Carlos de Freitas, John Belamy Foster, entre outros. O Chile de Pinochet foi pioneiro na experiência e o Brasil pode estar vivendo uma experiencia "neopinochetista".
Harvey, em O Novo Imperialismo (2004), se refere à espoliação da educação na seguinte passagem:
A ideia de que algum tipo de "exterior" é necessário à estabilização do capitalismo tem por conseguinte relevância. Mas o capitalismo pode tanto usar algum exterior pré-existente (formações sociais não-capitalistas ou algum setor do capitalismo - como a educação - que ainda não tenha sido proletarizado) como produzi-lo altivamente.
Por sua vez, John Belamy Foster (2013), analisando a experiência estadunidense, afirma:
Não é de surpreender que, sob essas circunstâncias, os círculos financeiros refiram-se à educação pública nos Estado Unidos, de maneira crescente, como uma oportunidade de mercado inexplorada – ou que o setor da educação privada esteja demandando uma maior abertura do trilionário mercado global de educação pública para a acumulação de capital. A educação, além disso, desempenha um papel crucial no desenvolvimento da força de trabalho, o que leva a crescentes apelos neoliberais para a sua restruturação.
A ampliação da Educação à Distância na Educação Básica e Superior no Brasil é um dos principais instrumentos de privatização e espoliação da educação do governo que se inicia. Em novembro de 2018, o Conselho Nacional de Educação aprovou a BNCC que prevê 30% da carga horária do Ensino Médio seja ofertada através da Educação à Distância (clique aqui). No último Diário Oficial de 2018, o MEC publicou a Portaria n.1428, permitindo que os cursos graduação possam ampliar a oferta de carga horária à distância de 20% para 40%, conforme denuncia a Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (clique aqui).
Além de comprometer ainda mais a qualidade dos cursos de graduação ofertados por instituições privadas, essas medidas interessam aos empresários da educação e, ao que tudo indica, beneficia, particularmente, o Ministro da Fazenda, Paulo Guedes, seus familiares e seus amigos, conforme publicado na Carta Educação (clique aqui) e do Esquerda Diário (clique aqui).
É o que revela também a matéria de Joanna Salém e Rejane Hoelever, publicada em Le Mond Diplomatique Brasil, em 05 de novembro de 2018.
O estreito círculo da extrema direita brasileira e chilena se fecha com o empresário Jorge Selume. Como dissemos, ele foi colega de Paulo Guedes em Chicago nos anos 1970. Nos anos 1980, construiu um império econômico graças à maior operação financeira realizada no Chile até então. Junto a Las Diez Mesquitas, um consórcio de empresários árabes, comprou o Banco Osorno e o vendeu ao Santander em 1985 por US$ 495 milhões. Na mesma época, ocupava a Diretoria de Orçamento do regime Pinochet.
Hoje fica cada vez mais claro que educação e cultura são fronteiras prioritárias para a expansão dos negócios neopinochetistas. O psicólogo Jorge Selume, por meio da Artool, criou uma poderosa máquina de comunicação e marketing político. Com ela, em 2016 alavancou a eleição de 46 prefeitos do partido Renovación Nacional com uso de técnicas da Cambridge Analytica. Além disso, entre os principais clientes da Artool estão o Banco de Chile e o Banco Santander, que juntos reúnem pelo menos metade da população com conta bancária no país.
Acumulação por espoliação é um termo utilizado por Harvey para designar a expropriação de direitos através do roubo, de fraudes e da violência.  E ao que parece é um conceito que se aplica ao caso brasileiro, como revela o trecho abaixo da mesma matéria:
Enquanto isso, Jorge Selume, o pai, há algum tempo investe no ramo da educação e tornou-se um dos mais influentes executivos da multinacional Laureate, sob suspeitas de fraudes no sistema de acreditação da educação privada. No Brasil, a Laureate tem priorizado o ensino a distância. Não por coincidência, Guedes defende um “choque de inclusão digital no ensino básico”, Bolsonaro fala em ensino a distância para crianças e o nome de Stavros Xanthopoylos, diretor de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Educação a Distância, foi cotado para o Ministério da Educação de um futuro governo de extrema direita. Caso a pasta ainda exista.
Um dos requisitos fundamentais para se combater as políticas de espoliação da educação que estão se desenhando é conhecer as experiências já desenvolvidas em outros países, seus mecanismos e suas consequências.

Ver também: https://blogdejamerson.blogspot.com/2018/11/escola-sem-partido-os-negocios.html

Para ler a íntegra das matérias citadas:

https://diplomatique.org.br/brasil-novo-laboratorio-da-extrema-direita
http://www.cartaeducacao.com.br/artigo/o-parentesco-desastroso-para-a-educacao/
http://www.esquerdadiario.com.br/Empresaria-da-educacao-irma-de-Paulo-Guedes-defende-universidades-fora-da-alcada-do-MEC
https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/viewFile/2175-795X.2013v31n1p85/25651