quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Não foi por falta de avisos: leituras para crítica das esquerdas brasileiras


Dada a atual perplexidade das "esquerdas" brasileiras frente a "vertiginosa" ascensão de forças conservadoras aos governos (mediante persuasão e violência) e do respectivo retrocesso político-social alcançado até então, fazer o balanço crítico dos governos do PT é tarefa imprescindível para construção de novos horizontes estratégicos e táticos no sentido progressista. Nesta postagem, sugiro a leitura de dois artigos do sociólogo Luiz Werneck Vianna publicados originalmente no site Gramsci e o Brasil. O primeiro, intitulado O Estado Novo do PT, data de 2007. Nele o autor examina o esgotamento da estratégia lulista de "conciliação de contrários" em tom quase premonitório:
De qualquer sorte, da perspectiva de hoje, já visível o marco de 2010, não se pode deixar de cogitar sobre as possibilidades de que o condomínio pluriclassista que nos governa venha a encontrar crescentes dificuldades para sua reprodução, em particular quando se tornar inevitável, na hora da sucessão presidencial, a perda da ação carismática do seu principal fiador e artífice. Na eventualidade, no contexto de uma sociedade civil desorganizada, em particular nos seus setores subalternos, e do atual desprestígio de nossas instituições democráticas, a política pode se tornar um lugar vazio, nostálgico do seu homem providencial, ou vulnerável à emergência eleitoral da direita, brandindo seu programa de reformas institucionais, entre as quais a de simplificar ao máximo o papel do Estado, a ser denunciado como agência patrimonial, fonte originária da corrupção no país. Impedir isso é a tarefa atual da esquerda. Mas ela somente reunirá credenciais para tanto, se, rompendo com o estatuto condominial vigente, for capaz de reanimar seus partidos, aí compreendido o PT, e de estabelecer vínculos concretos com os movimentos sociais, sempre na defesa da sua autonomia, em torno de suas reivindicações.
No segundo artigo, publicado no mês de novembro de 2016 sob o título Em meio à tempestade, Vianna analisa a contexto da crise política brasileira e mundial:
Se esses objetivos, antes da recente sucessão presidencial nos EUA, não contavam com soluções fáceis, eles parecem tornar-se ainda mais espinhosos depois dela. Com tirocínio político, que não nos faltou em outros momentos agudos da nossa História, podemos chegar a um bom porto. Em meio aos muitos perigos que nos rondam, inútil ficar com o olhar perdido em 2018. A hora da grande política é agora.
Vianna não foi o único a avisar que o trem da "conciliação de contrários" estava prestes a descarrilar, impondo altíssimos custos humanos e sociais para os trabalhadores e toda ordem de brasileiros desvalidos. 2017 chegou e, por enquanto, ainda não há novidades que não indiquem o aprofundamento das perdas civilizatórias. Aliás, os apitos do trem da barbarie estão cada vez mais próximos, mas o PT e seus satélites continuam agindo nos marcos da pequena política.

Abaixo seguem os links para leitura dos artigos citados.

O Estado Novo do PT
Em meio à tempestade