As sirenes da história anunciam confrontos intensos no front

Há pouco fiz uma postagem ressaltando a necessidade de as forças progressistas e movimentos sociais populares pautarem os crimes das organizações Globo (leia aqui Fora Temer e Fora Globo) por terem relações intrínsecas com os criminosos que elas estão condenando.

Isso porque avalio que essa corporação empresarial-midiática, apesar de ser juridicamente uma concessão pública, ela opera segundo os interesses do capital interno e externo, tendo como função principal a difusão ideológica, mas que se materializa visando objetivo comum ao capital, o lucro. Assim, ela cumpre funções como principal agência de organização cultural de toda a sociedade brasileira, mas também tem função na reprodução econômica e do poder político policial.

Por isso penso que as organizações Globo, pelas ligações comerciais e políticas, não podem não estar ligadas aos crimes pelos quais muitas outras empresas estão sendo condenadas. É só se procurar bem que se encontram as ligações.


A Globo é central porque é um monopólio brutal dos meios de comunicação, capaz de dar voz e construir sentido em favor dos interesses dos mais ricos e, silenciar, distorcer e esmagar  a produção de sentidos em favor dos mais pobres.

No que tange à política já é conhecida e historicamente documentada a participação da Globo no golpe de 1964, na eleição de Fernando Collor e FHC, na proteção à Aécio, Cunha e Temer e também destruição destes, porque lhes convém para destruir Lula, o PT e tudo que tiver ligação com a esquerda brasileira.

Não tem como a Globo não estar comprometida com tudo o que está condenando se, em algum momento, ela patrocinou e foi patrocinada por esses mesmos sujeitos. Ademais, as delações recentes realizadas pela empresa JBS revelam cabalmente que essa turma que governa o país há séculos, continua com a mesma disposição escravocrata e facínora.

O fato é que Globo não apenas legitima tudo isso, mas também está intrinsecamente implicada por profundos interesses econômicos e políticos.

E os que lutam pela emancipação do povo brasileiro deve, urgentemente, ocupar as ruas e as redes sociais do Brasil com uma substantiva luta político-cultural contra as Organizações Globo. E ao mesmo tempo ajudar a construir um projeto popular de país, capaz de amalgamar a vontade de libertação. Isso passa decisivamente pela superação da Globo.

O aprofundamento da crise econômica e política abre uma grande oportunidade de o Brasil cobrar severa e profundamente a dívida histórica da colonização. É o que diz também o editorial de Carta Maior, assinado por Saul Leblon, que reproduzo a seguir.
"O Brasil adormeceu nesta quarta-feira, 17 de maio de 2017, sem saber as respostas para muitas das perguntas essenciais cobradas pelo passo seguinte de sua história. Mas a principal delas para ir direto ao ponto --dispensando-se o retrospecto da implosão da frente golpista, com as gravações de pedidos de propinas feitas aos donos do JBS por Aécio Neves e Michel Temer— é saber se a mobilização popular será capaz de preencher o vazio vertiginoso que se abriu agora não apenas na cúpula política, mas na estrutura do poder na sociedade. As instituições que dão coesão a uma sociedade fundada em conflitos de interesses agudos, como é o caso da brasileira, cujos abismos de desigualdade são sabidos, estão no chão. Não há legitimidade no parlamento. O judiciário tornou-se a armadura desfrutável do assalto das elites contra as urnas, na farsa de um impeachment – confirma-se agora-- arquitetado com uma escória a soldo. A mídia foi a voz da exortação e da institucionalização desse esbulho. Como será o amanhã de uma nação na qual o amálgama político foi destruído em nome do combate à corrupção. E sob esse biombo faiscante operou-se a virulenta destituição de direitos arduamente conquistados em um século de lutas democráticas? O conservadorismo está na defensiva. A plutocracia perdeu seu manto moral.Desnudou-se como uma reles devoradora de libras de carne humana barata. Moro e seus promotores terão que se explicar: por que nunca –nunca- abriram o foco para a tempestade que ora desabou, sobre as suas cabeças inclusive?  O contato mais próximo do califado de Curitiba com o assunto ‘Aécio Neves’ está documentado na série de fotogramas de sorridente cumplicidade entre o presidente nacional do PSDB e o juiz Sergio Moro. Da mídia é suficiente dizer que sem ela o golpe teria sido impossível, assim como inviável a preservação da capatazia que ora sucumbe às gravações.   Reordenar a sociedade a partir de agora, portanto, é uma tarefa que só a rua poderá exercer integralmente, devolvendo-lhe a prerrogativa das urnas. As sirenes da história anunciam confrontos intensos no front.   Não existe uma fórmula macroeconômica autossuficiente –seja a do golpismo, ou uma de ‘esquerda’ -- para tirar o Brasil do plano inclinado em que se encontra.  O que existe é uma derrocada vergonhosa do conservadorismo que amplia o espaço para o debate das reformas verdadeiramente indispensáveis à destinação social do desenvolvimento. A saber: 
-uma reforma política para capacitar a democracia a se impor ao mercado; 
-uma reforma tributária para buscar a fatia da riqueza sonegada à expansão da infraestrutura e dos serviços;  
-uma reforma do sistema de comunicação para permitir o debate plural dos desafios brasileiros; 
–que, insista-se não se resolvem sem ampla e permanente renegociação. 
O Brasil será aquilo que a rua conseguir que ele seja. E o momento nunca foi tão propício para escrever isso no asfalto e nas praças de todo o país.   A legitimidade das ruas precisa ser exercida. Urgentemente. Só as lideranças populares tem condições hoje de falar à população em um palanque. O conservadorismo usará o palanque privado da Globo para barrar o escrutínio da sua crise nas urnas. A ocupação das ruas definirá quem é a liderança popular hoje no Brasil capaz de devolver credibilidade à política e seriedade à repactuação do desenvolvimento, arrebatando assim o apoio indispensável de setores da classe média democrática para levar a nação às urnas e retomar o fio de uma construção interrompida--mais uma vez-- pela violência política conservadora."
Leia mais sobre o assunto:
https://theintercept.com/2017/05/18/depois-de-anos-escondendo-sujeiras-debaixo-do-tapete-grande-imprensa-larga-aecio-ferido-na-estrada/



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