quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Relatório da Clarivate Analytics desmonta campanha de desmoralização das universidades públicas

Diversos pesquisadores e entidades científicas vêm trabalhando para desmontar a campanha difamatória empreendida pela mídia empresarial contra as universidades públicas brasileiras.  Em boa hora, mais um relatório vem reforçar essa frente de combate. Trata-se do Research in Brasil elaborado pela Clarivate Analytics, empresa especializada em indexação e análise de citações, e que mantém a plataforma Web of Science. O documento foi  disponibilizado à Capes (em 17 de janeiro de 2018). Entre outros aspectos, o relatório apresenta o desempenho das universidades públicas brasileira figurando na 13a. colocação no ranking mundial, a frente de países com tradição de pesquisa como Rússia, Holanda e Suécia.
Outra informação importantíssima é a revelação de que as universidades particulares brasileiras não produzem absolutamente nada de relevante. Na lista das universidades com melhor desempenho no Brasil vê-se apenas as públicas, como demonstra o gráfico a seguir:

O relatório informa o quadro da produção científica brasileira entre os anos de 2011 e 2016. Para sua elaboração foram consultados mais de 18 mil revistas científicas de impacto em todo o mundo e mais de 180 mil conferências, livros, etc. Os dados foram obtidos do InCites, que é uma plataforma baseada nos documentos indexados na base multidisciplinar Web of Science. Os aspectos levantados incluem a quantidade de citações da produção brasileira no mundo, considerando a quantidade de documentos produzidos, artigos no top 1% e 10% mais citados, impacto da citação, colaboração com a indústria e colaborações internacionais.

As informações vêm repercutindo, principalmente na mídia alternativa, uma vez que fornece vários elementos que contradizem o recente relatório do Banco Mundial, encomendado pelo ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy e entregue ao atual ministro Henrique Meirelles no final do ano passado, como forma de fundamentar os cortes de recursos das universidade federais. Entre outros aspectos o relatório conclui que:
“O Governo Federal gasta aproximadamente 0,7% do PIB com universidades federais. A análise de eficiência indica que aproximadamente um quarto desse dinheiro é desperdiçado. Isso também se reflete no fato que os níveis de gastos por aluno nas universidades públicas são de duas a cinco vezes maior que o gasto por aluno em universidade privadas. A limitação do financiamento a cada universidade com base no número de estudantes geraria uma economia de aproximadamente 0,3% do PIB (...). Além disso, embora os estudantes de universidades federais não paguem por sua educação, mais de 65% deles pertencem aos 40% mais ricos da população” (Grifos nossos).
A falta de eficiência tem sido o principal pretexto utilizado para aumentar a quantidade de alunos em sala de aula nas universidades públicas, tendo por referência a proporção aluno/professor das particulares. Esse argumento vem sendo utilizado também pelas corporações empresarias e pela mídia capitalista, na tentativa de justificar o sucateamento das universidades públicas e as mais diversas formas de privatização, entre elas o pagamento de mensalidades.

O relatório da Clarivate Analyitcs vem somar aos esforços de diversos especialistas no assunto em fornecer uma visão mais complexa e crítica à questão do desempenho e da importância das universidades públicas brasileiras. 

Como fez o Prof. Peter Schulz, físico da Universidade de Campinas, especialista em cienciometria, através de artigo publicado na Carta Campinas sob o título "Físico da Unicamp desmonta ataque do Banco Mundial contra universidades públicas". Entre outras aspectos, Schulz ressalta as realização da pesquisa como uma das grandes diferenças entre as universidades públicas :
O primeiro aspecto que me chamou a atenção é que a palavra pesquisa como atividade realizada pelas universidades não aparece uma única vez. A maioria das universidades públicas realiza pesquisa, enquanto que a maioria das privadas é majoritariamente voltada ao ensino. É bom lembrar que a “indissociabilidade ensino-pesquisa e extensão” é um preceito constitucional para as universidades brasileiras. Cumprir esse preceito custa mais, mas o relatório não faz menção a isso"(Grifos dos autor).
Outro aspecto ressaltado por Schulz é o percentual de professores com alta qualificação e dedicação integral das públicas e privadas:
Além disso, não existe no relatório nenhuma menção a doutorado e tempo integral. Explico: docentes com doutorado e com dedicação integral promovem pesquisa e qualificam o ensino e por isso são mais bem pagos. Segundo as Notas Estatísticas do Censo de Educação Superior 2016, 85% dos docentes na rede pública estão no regime de tempo integral, enquanto que, na rede privada, apenas 25,7%. Além disso, na rede pública 39% do corpo docente tem formação de doutorado, índice que cai para 22,5% na rede privada. Espero que o relatório não sugira diminuição nos gastos com a diminuição na qualificação docente contratada 
(Grifos dos autor).
Professores com alta titulação e que se dedicam integralmente à universidade, formando profissionais de diversas áreas do conhecimento e desenvolvendo pesquisa científica com relevância e impacto internacional faz grande diferença. O que os agentes do capital financeiro e a grande mídia tentam esconder é que os investimentos financeiros que se faz nas universidade públicas estão intimamente relacionado com a formação de quadros profissionais articulada ao desenvolvimento de ciência e tecnologia, aspectos fundamentais à melhoria das condições de existência da população e a soberania do país.

O capital financeiro e o complexo midiático empresarial que assaltou o país, vem empreendendo, há muito, uma campanha de desmoralização contra as universidades públicas, visando o controle absoluto da educação brasileira, tanto para explorar o setor como nicho de mercado, quanto para controle ideológico da formação profissional das novas gerações. Um dos eixos da narrativa, sempre repleta de mentiras e omissões, propagada pelos diversos editoriais dos veículos de imprensa é a ineficiência dos "gastos" das universidades federais e estaduais em comparação totalmente farsesca com as particulares. Analiso um dos editoriais do jornal O Globo no post O Globo mente e ataca o movimento docente para privatizar a universidade pública.

O relatório da Clarivate Analytics (uma empresa privada) vem, em bora hora,  ajudar a desmentir a farsa da mídia e da banca capitalista contra a universidade publica brasileira.

Mais sobre o assunto:

http://www.jb.com.br/pais/noticias/2017/11/26/especialistas-rebatem-relatorio-do-banco-mundial-que-prega-o-fim-do-ensino-superior-gratuito/

https://www.pragmatismopolitico.com.br/2018/02/universidade-particular-no-brasil-nao-conhecimento.html

http://cartacampinas.com.br/2017/11/fisico-da-unicamp-desmonta-ataque-do-banco-mundial-contra-universidades-publicas/

https://blogdejamerson.blogspot.com.br/2016/07/o-globo-mente-e-detrata-o-movimento.html

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