sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Outra Greve Geral é necessário

        Para quem ainda tinha dúvida sobre as reais intenções das classes dominantes brasileiras contra os trabalhadores e a população pobre, ao usurparem o poder de uma presidenta eleita, os últimos acontecimentos são evidências irrefutáveis de que o golpe foi contra o povo: imposição pelo executivo de Medida Provisória para privatizar o ensino médio (MP 746); aprovação da PEC 241 (PEC da Morte) na câmara dos deputados, com a mesma votação do impedimento, sem crime de responsabilidade de uma presidenta da república eleita; aprovação do aumento dos próprios salários pelos parlamentares; os estudantes e professores sendo presos e algemados por fazerem protestos pacíficos em defesa do direito à educação (previstos na Constituição); suspensão pelo STF do direito a greve dos servidores públicos, fornecendo ao poder executivo ferramenta jurídica para tentar frear o “estouro da boiada”, frente à intensiva destruição de direitos sociais, políticos e civis conquistados. 
A sensação de que a sempre moribunda democracia brasileira teve mais uma morte está se espalhando e rompendo a bolha da grande mídia. O povo está reagindo e tomando as ruas, ainda que forma fragmentada. Os estudantes secundaristas estão na vanguarda ocupando as escolas, os universitários estão parando as aulas e exigindo que seus mestres entrem em greve. Os povos indígenas deflagraram ações diretas em todo o país. Os sindicatos combativos já convocaram Greve Geral, juntamente com os movimentos sociais populares. Aos poucos, parte da população que foi favorável ao impedimento da presidenta está percebendo as reais intenções dos usurpadores. 
Diante de uma conjuntura de exceção que tende a se aprofundar, como resistir quando não se tem mais a quem recorrer legalmente é a pergunta da hora para quem luta por vida digna e não pretende se resignar. Qual deve ser o sentido unificador da luta do povo, quando não se tem mais a quem reivindicar o direito à vida digna, num contexto em que Estado de Direito foi sofisticadamente suspenso e a violência policial institucionalizada atiça e protege milícias patronais contra estudantes e a maioria do povo, em favor de uma minoria rica? 
O filósofo Walter Benjamin em suas reflexões sobre o Estado de Exceção nos fornece uma pista, que parece bastante adequada ao nosso contexto:
“A tradição dos oprimidos nos ensina que o estado de exceção em que vivemos é a regra. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a esse ensinamento. Percebemos assim, que a nossa tarefa é originar um verdadeiro estado de exceção; e com isso nossa posição ficará melhor na luta contra o fascismo (Benjamin, 2012, p.245).”
Para Benjamim a Greve Geral é o estado de exceção do trabalhadores e diferentemente da greve no local de trabalho, foge do ordenamento jurídico usurpado, extrapola motivos específicos e coloca em pauta demandas de toda a classe trabalhadora. Ela coloca em xeque o próprio ordenamento jurídico, mexe nas relações de direito no sentido de refunda-las. Neste horizonte, recomendo a leitura do artigo de Daniel Caribé publicado no jornal Passa Palavra, sobre a Greve Geral como alternativa ao Estado de Exceção:
“Greve Geral de forma ampla: não somente como milhares de trabalhadores de macacão azul parando suas atividades laborais, mas também como articulação dessa miríade de novas formas de resistência como ocupação das escolas, o enfrentamento à polícia assassina, a revolta dos trabalhadores ambulantes em pleno Carnaval ou as catracas em chamas que param o trânsito e tudo aquilo que interrompe o fluxo de acumulação”.
Contra o estado de exceção a serviço dos ricos, a Greve Geral é o estado de exceção em defesa dos pobres e de vida digna!


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